Pães de queijo em SP
Salvador da fome urgente, essa iguaria tradicionalmente mineira, apesar de onipresente no país todo, demanda uma cuidadosa busca por belos representantes
Antes de invadirem as prateleiras dos supermercados, os pães de queijo em casa eram feitos a partir de uma receita caseira, anotada em algum surrado caderno de receitas da minha mãe.
Nada de meia cura ou queijo especial que só fica pronto em ano bissexto em algum lugar ermo no alto da montanha, o que dava liga nos pães caseiros era aquele queijo parmesão de saquinho, de alguma marca mediana. Faixa Azul ralado? Só em ocasiões muito especiais.
Unta a mão com óleo, pega um teco de massa, faz bolinha e modela nas forminhas de empada. O ritual do preparo envolvia todos os irmãos, desde que se comprometessem a não beliscar a massa crua. Quando ficavam prontos, era liberado pegar um ou dois bem quentinhos, cortar ao meio e passar manteiga.
Os anos se passaram, e os saquinhos de pão de queijo congelados aposentaram a receita caseira. Quando a fome apertava, era abrir o freezer e pegar um pacote com o retrato de Vovó Arthêmia, mãe do engenheiro Mário Carneiro, fundador da onipresente Casa do Pão de Queijo. Mas nada se compara à receita caseira do livro de receitas.
Aliás, quem já tentou se aventurar em preparar pão de queijo em casa, sabe o quanto não é simples. As receitas são as mais diversas possíveis, umas levam leite na massa, outras água, e tem as que usam banha de porco ao invés de óleo, polvilho doce ao invés do azedo, e por aí vai. O queijo então, nem se fala. Quanto mais caseiro e curado, melhor o pão de queijo.
Os meus favoritos são aqueles massudos na medida certa, formato de tartaruga, casquinha crocante por fora e puxento por dentro. Achar um desses fora da cozinha de casa foi um baita desafio, mas com diz o ditado, quem procura acha, e fui encontrar um desses no centro de São Caetano do Sul (SP).
Localizado na Rua Baraldi, 1039, o Pão de Queijo Mineiro, mais conhecido como Pão de Queijo da Baraldi, praticamente parou no tempo. Ninguém sabe informar ao certo, mas alguns dizem que as paredes ilustradas com cenas bucólicas do que seria uma “vida na fazenda em Minas Gerais” e os balcões antigos de madeira estão ali intactos há mais de 20 anos, outros arriscam 40 anos. O que importa é que os pães de queijo estão sempre fresquinhos (recheados ou não), e as prateleiras dos balcões estão sempre lotadas de pães caseirinhos, bolos diversos e roscas de goiabada.
Outro pão de queijo que aprecio muito são os das padocas aqui da cidade. Às vezes você se depara com alguns muito secos e outros massudos e murchos, mas quando acontece de encontrar um daqueles que são tão rechonchudos que pedem por um recheio dentro, é só alegria. E esse é o caso da Esplêndida Pães e Doces, localizada na Rua França Pinto, 435, Vila Mariana, São Paulo (SP). Os salgados da vitrine são enormes, e o pão de queijo também. E você ainda pode pedir pra chapear ele com requeijão, na entrada ou na saída.
Ali nas proximidades da Vila Mariana, mais precisamente na Vila Clemetino, o Clemente Café, que hoje ocupa uma charmosa casinha na esquina das ruas Diogo de Faria e Coronel Lisboa, resiste bravamente à especulação imobiliária que vem deformando o bairro. Além dos excelentes cafés, brownies e cookies, o pão de queijo com Queijo da Serra da Canastra é delicioso demais. Nem tão grande, nem tão pequeno, fofinho por dentro, com muito queijo e crocante por fora. Ah, e se comer apenas um não for o suficiente, peça o pacote com alguns congelados. Seu café da tarde agradece.
Ainda nos arredores da Vila Clementino, na Rua Luís Góis, 1022, o Pé de Minas é o oásis do custo benefício. Com 10 reais no bolso você compra um pão de queijo fresquinho, toma um café coado na hora e ainda sobra um trocado pra você comprar um quadradinho de doce de leite.
Já na Região Oeste aqui da capital paulista, mais precisamente na Rua Haddock Lobo, 1408, nos Jardins, se você perguntar onde tem um excelente “Pão de Queijo” nos arredores, a resposta vai ser “O Pão de Queijo da Haddock". Também pudera, eles estão ali desde 1968. Diferente dos outros pães de queijo, o da Haddock usa e abusa do polvilho azedo na receita, o que deixa os pães maiores, mais leves, aerados e, quando frios, mais sequinhos.
Agora, se você quer uma verdadeira esbórnia gastronômica com pão de queijo na receita, o melhor lugar da cidade é o Pibus Hamburguer, com várias unidades aqui na cidade. Você pode pedir qualquer lanche do cardápio, do X Salada ao X Tudo, servido no pão de queijo. Esse aí da foto é o Trembão Del-Rei, um sanduíche de Steak Angus em tiras, queijo prato e catupiry.
Outra variedade dessa iguaria que eu não poderia deixar de falar é o “Mini Pão de Queijo”, ou “Pão de Queijo Coquetel”, onipresente em todo boteco, quiosque, esquina ou mercado. Os melhores que já comi até hoje foram os da padaria do Supermercado St. Marche. Mesmo passando um tempinho na vitrine, eles permanecem fofinhos por dentro e crocante por fora.
E para encerrar essa edição, deixo a dica de um dos pães de queijo mais práticos que descobri durante o período em que fiquei enclausurado durante a pandemia, o Pãpãpãpão de Queijo. Uma massa resfriada para forno, frigideira, grill e o que mais der na sua telha. As encomendas podem ser feitas diretamente no instagram deles, tá?
Ah, se você tem mais dicas de bons pães de queijo, de qualquer lugar do país, é só deixar aqui nos comentários.
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