Trilha sonora da playlist: “Bee Gees - Love You Inside Out”
Tenho muita sorte de ter crescido numa família boa de garfo. Pai, mãe e irmãos, todos glutões. Sempre fiquei impressionado ao ver meu pai transformar tiras de carne, tomates, catchup e mostarda em um picadinho tão gostoso, mas tão gostoso, que não foram poucas as vezes que tomei bronca porque ia belisca algumas tirinhas na panela antes de estarem prontas. O segredo da receita meu pai não fala até hoje, mas eu desconfio que eram as músicas do Bee Gees, que tocavam o tempo todo enquanto ele estava na cozinha.
(Lasanha gratinadinha, no ponto. Demorei umas 3 horas do preparo da massa até ela ir pra mesa, mas ficou uma delícia.)
Já a minha mãe, estimulada pelo ciúmes de ver os quatro filhos elogiarem a receita do pai, não sabia brincar. Ia logo preparar tortas de frango, bolos de chocolate, pudins, lasanhas pornograficamente recheadas e gratinadas, maioneses de tudo quanto é tipo. A farofa de moela de frango, uma tradição de Natal, é uma das poucas receitas que sinto falta desde que virei vegetariano.
Foi com eles que aprendi que cozinhar é uma delícia, ou melhor, é entrega, é amor, é um ritual que dura horas, mas parecem poucos minutos. Quando eu ia pra cozinha deles, era colocar os ingredientes na bancada e já ouvia “hmmmm, o que vai sair daí, hein?", ora da minha mãe, ora do meu pai. O cheiro do almoço sendo feito era o atrativo para mais invasões ao lado do fogão. Ver todo mundo reunido na mesa, sem falar nada, apenas devorando a receita que você preparou durante horas, é uma sensação que todo mundo deveria experimentar.
Já faz um bom tempo que saí da casa deles, mas esse ritual da cozinha nunca deixou de fazer parte do meu dia a dia. Quando aprendi a fazer pães, comecei a levar uma fornada toda segunda-feira para o trabalho. Chegava no escritório, abria uma toalha na minha mesa, colocava a cestinha de pães e chamava todos ali pra pegar um pedaço. Não tenho palavras para descrever a satisfação que era ver todos reunidos, apenas conversando, comendo, sem pensar no trabalho, nem que fosse por alguns minutos. Só sei que a semana começava bem.
E todo mundo deveria visitar sua própria cozinha, sabe? Nem que seja apenas para preparar algo para você mesmo. Aquele pão na chapa que só você sabe a quantidade certa de manteiga? Já é cozinhar. Quer se arriscar mais? Se você só tiver farinha de trigo, ovo e tomate, isso já dá uma bela duma macarronada. Massa de macarrão é sempre 100g de farinha de trigo e 1 ovo inteiro. O molho? Pique os tomates, tempere, jogue na panela, tampe e deixe cozinhar em fogo bem baixo. Enquanto isso, bote força no braço pra sovar a massa, abra, corte no formato que você quer de macarrão. Simples, não?
Não sei explicar o que sinto quando vou cozinhar. Seja churrasco, almoço de família, dia das Mães, lá estou eu dedicando horas, focado, em transe, feliz, pleno. O cansaço de passar horas em pé some na hora quando você vê todos reunidos, comendo e bebendo.
Então, caro leitor, corra pra cozinha, vá cozinhar pra você, pra quem você quer bem. Em tempos de isolamento social, faça um banquete para dois e mande entregar a outra metade pra um amigo. Ah, e não esqueça de deixar a pia limpa, tá?
Entenda o que vai cozinhar para improvisar
Todo mundo tem um livro de receitas em casa. Seja aquele caderninho surrado que você herdou dos avós ou o verso da lata de tomates, lá está a receita. Na biblioteca aqui de casa, eu tenho desde os livros mais básicos de receitas até os mais elaborados, que explicam a ciência por trás de cada tipo de preparo e histórias de ingredientes.
Entender um pouco mais sobre o que vai na receita que você vai cozinhar te dá a liberdade de improvisar.
Foi esse livro que despertou a minha vontade ser cozinheiro. É bem básico mesmo, ilustrado, didático ao extremo. Se você é iniciante, ele é perfeito.
Um clássico presente nas cozinhas de todas as mães e avós. Um compiladão de receitas, das mais básicas até as mais elaboradas.
Aqui, meu amigo, a coisa começa a ficar séria. O autor explica de forma cientificamente acessível o que acontece com cada um dos ingredientes das receitas. Eu uso ele para entender, por exemplo, o que acontece se eu colocar manteiga ou leite numa das minhas receitas de pães.
Esse livro foi uma deliciosa descoberta. Uma aula de história sobre a importância da culinária na geopolítica. Recomendo ler ele com papel e caneta em mãos para ir anotando todas as referências bibliográficas do autor.
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