Enquanto a segunda temporada da pandemia segue, são muitas as saudades que vão surgindo. Para alguns, a falta do boteco pesa, e é difícil seguir sem saber quando será a próxima reunião regada a cerveja e tremoço. Para outros, o simples pingado acompanhado de um pão na chapa é um sonho distante. Mas, como faz falta um balcão, seja ele de bar, padoca ou para beber alguns drinks.
O balcão é um lugar democrático, acolhedor e respeitoso. Sozinho ou acompanhado, é ali no balcão onde você faz amizade com o estabelecimento. Se o balcão escolhido é de uma padoca, sugiro ficar perto da chapa. Você aprende que jogar um pouco de água na chapa quente pra ajudar a derreter algum ingrediente é uma excelente ideia. E a arte de se fazer o café nas majestosas cafeteiras com aquela coroa no topo? Só assim é possível compreender a alma de um pingado no balcão.
Morando na cidade de São Paulo, aprendi a admirar os mais diversos balcões. Na época em que trabalhava na MTV, era sempre fisgado pelo balcão da Pizzaria Real. Terminava o expediente, e o meu caminho ali do Sumaré até o metrô era interrompido pelas pizzas quentinhas. Duas fatias de mussarela recarregava as minhas energias para seguir o caminho de volta pra casa.
Já quando trabalhava na Revista Trip, lembro também de testemunhar um cantor e compositor pernambucano, debruçado ebriamente no balcão do PF em frente à editora, provavelmente transformando suas dores em inspiração. Pouco tempo depois, ele acordou de sonhos intranquilos e lançou um dos melhores discos de sua carreira. Balcão e coração partido andam sempre lado a lado.
(Jeff Magnum, baixista do Dead Boys, e sua turma, prestigiando o boteco japonês mais legal da cidade de São Paulo. Foto: instagram.com/izakayada)
Os anos se passaram e eu conheci os balcões dos botecos japoneses da cidade, os Izakayas. Aí foi um caminho sem volta. Há quem diga que eles são apertados demais, eu digo que a experiência de ir a um Izakaya é o mais próximo de uma festa com amigos, que sempre acaba na cozinha apertada do seu apartamento. Bebidas, aperitivos, boa conversa, tudo junto, misturado, funcionando na mais perfeita harmonia enquanto o anfitirião garante que não vai haver um copo vazio ou uma barriga esfomeada.
São vários os Izakayas espalhados pela cidade, mas obviamente a maior concentração deles é ali no bairro da Liberdade. Não tem como não se apaixonar pelo Kintarô, ali na Rua Thomaz Gonzaga. Mas seja respeitoso, deixe o deslumbre - e o celular - de lado, e aproveite para trocar algumas palavras com o Yoshi.
Mas o meu balcão favorito aconteceu por acidente, ou sorte. Em um dos esquentas antes de algum show ali no Cine Joia, subi as escadas ali da pracinha Carlos Gomes e me peguei bebericando saquês e cervejas geladas no Izakayada, o Izakaya mais legal da cidade, na minha opinião. Renato Yada é um mestre na arte de comandar um balcão, preparar aperitivos e bater um bom papo. Animes, Daft Punk, amigos em comum, histórias dos bastidores da música independente brasileira… cada ida ao Izakayada é sempre colocar o papo em dia com o novo velho amigo, o Renato.
A fadiga da pandemia aumenta a cada dia, assim como os planos do que fazer quando tudo isso acabar. Não sei o que vocês estão planejando por aí, mas eu provavelmente vou estar sentado em algum balcão, seja começando o dia com pingado e queijo quente, seja fechando a noite chumbado de saquê e cerveja.
O balcão mais charmoso da Netflix
Inspirado no mangá de mesmo nome, Midnight Diner: Tokyo Stories, é uma das séries mais deliciosas e aconchegantes que já encontrei no catálogo da Netflix. Em cada episódio, um causo de balcão, ouvidos silenciosa e atentamente pelo Mestre.
E ao final de cada episódio, uma receita deliciosa. A minha favorita é o Omurice, uma omelete recheada com arroz e temperada com catchup. Simples e saborosa, assim como a série.
O livro do Tofu
Se você torce o nariz para o tofu, acha ele sem graça e sem gosto, é porque você ainda não encontrou algum lugar ou alguém que saiba prepará-lo direito. Esse pequeno livro de bolso traz 250 receitas, que vão desde o método tradicional (preparado com shoyu, cebolinha e gengibre) até técnicas de preparo de hambúrgueres.
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