Foi morando metade da minha vida no interior de São Paulo que aprendi a apreciar refeições celebradas no quintal. Churrasco, reunião de família, aniversário, almoço de domingo, Natal, Ano Novo, todos celebrados nos quintais de casa, dos familiares ou de amigos. Salão de festas de prédio ou era coisa de estudante, ou de gente encastelada em mega apartamentos cafonas nos poucos edifícios da maioria das cidades em que morei.
Também não eram raros os restaurantes que ostentavam quintais tão grandes que davam conta de acomodar muita gente. Em Presidente Prudente, cidade em que meus pais fixaram residência há mais de 20 anos, um dos mais emblemáticos quintais da cidade é o do Bar do João Porquinho, na rua Antônio Furtado de Miranda, 390, Vila Industrial.
Um botecão que funciona há anos no mesmo endereço, mas cujo o enorme e simples quintal fica repleto de mesas lotadas o tempo todo. Culpa da cerveja trincando de gelada e das frituras, especialmente as porções de torresmo com mandioca cozida e frango frito.
Mas quintais não precisam de tamanho para serem hospitaleiros. Basta ser bem arrumado, e quem sabe, ter uma ou algumas árvores ali te emprestando uma sombra.
Por exemplo, em uma visita recente a Buenos Aires, o SIFÓN Soderia poderia ser apenas mais um dos novos e bons estabelecimentos que estão ocupando os imóveis antigos ali da Av. Jorge Newbery 3881, Villa Crespo, mas o esmero e cuidado que eles tiveram com o quintal faz você se esquecer das horas e se esbaldar de beber jarras de “vermucito com soda”.
Aqui em São Paulo, um dos lugares que mais me surpreendeu, tanto pelo tamanho quanto localização foi o Bánh Mì Vietnam, na Rua Dr. Seng, 44, ali na Bela Vista. Escondido entre os prédios da região da avenida Paulista, este restaurante vietnamita ocupa uma das charmosas casas geminadas ali da rua.
O que não dá pra imaginar é que, ao entrar pela porta, a casa espicha um andar pra cima e mais três andares pra baixo, desembocando em um disputado quintal com uma mini floresta, ocupadas por no máximo 4 ou 5 mesas, se não me engano.
Outro lugar que vale muito a visita também é a Casa Abe, na Rua Augusta 339. Apesar estar em frente ao Parque Augusta, a pequena portinha que dá acesso ao local, esconde uma espaço multicultural de respeito, com um quintal do mesmo naipe, além de excelentes drinks, sucos, cafés e cerveja sempre trincando pra quem acabou de dar um rolê no parque.
Mesmo bairros mais arborizados da cidade não são garantia de lugares com quintais gostosos. O risco de você cair numa armadilha que mais se parece uma vitrine da Cecilia Dale do que o "quintal da vó” que habita o seu imaginário é grande.
O que não é o caso do Lá No Quintal Café, aberto recentemente aqui na Vila Clementino, que ocupa uma das poucas casas antigas que restam no começo da Rua Luis Góis, mais precisamente no número 1861. Tomar café com leite quentinho, acompanhado de waffle vegano ou pão de queijo enquanto fica protegido pela sombra da jabuticabeira é algo cada vez mais raro.
Ali pelos lados do Sumaré, no bairro do Sumarezinho, também resistindo às cafonas torres residenciais que não param de pipocar, a Padoca Vegan, Rua Harmonia 1275, tem um lugar reservado no meu coração. O salgados de lá são absurdos de bom, e já te dou a letra: o calabresito é praticamente impossível de resistir. Como dividem o mesmo quintal com um Hostel, o quintal é de respeito, e o local perfeito pra bater um rango tranquilamente.
Para finalizar, vamos a um local bem óbvio, mas que conseguiu fazer bom uso de um belíssimo casarão na Vila Clementino, Rua Gandavo, 447, próximo à Cinemateca, o Braz Quintal. Apesar de terem emperiquitado todo o quintal, ainda é extremamente agradável comer uma das maravilhosas pizzas deles, de boas, enquanto beberica uma tacinha de vinho ali na área externa.
Ah, faltou algum quintal aqui? Só deixar nos comentários, pode ser de qualquer cidade :)
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Pra mim o melhor efeito da pandemia foi essa popularização dos lugares pra comer ao ar livre. Aqui em Porto Alegre tem muitos. Sempre amei também.