O Palmito da Bandeirantes
Não tem como passar por uma das vias mais importantes da cidade de São Paulo e não ficar encucado com 3 potes por um preço inacreditável
Todo turista, viajante ou morador da cidade de São Paulo já deve ter tido a oportunidade de trafegar pela Avenida dos Bandeirantes. Uma das vias mais importantes da cidade, ela serve de via de acesso ao Aeroporto de Congonhas, Marginal Pinheiros, Anchieta, Imigrantes, cruza os bairros do Itaim Bibi, Vila Olímpia, Moema, Campo Belo, Brooklin, Saúde e Jabaquara.
A “Bandeirantes”, como nós gostamos de chamar, é o céu e o inferno. De manhã, ela é engarrafada pelos trabalhadores que estão buzinando inutilmente no afã de fazer o trânsito andar mais rápido, ou estão em transe, com olhar perdido, exercitando a paciência matinal. Mas a gastronomia da Bandeirantes é algo a ser estudado.
Quando o trânsito está parado na parte da manhã, você pode comprar panos de pratos dos ambulantes para equipar a sua cozinha, por exemplo, enquanto pensa se precisa realmente de um carregador de celular novo. Se der sorte, pode até encontrar um caminhão estacionado, vendendo frutas da estação e tábuas de corte feitas de madeira rústica.
Já no período da noite, você pode simplesmente decidir se quer ter uma gastrite tremenda comendo algum salgado requentado das inúmeras lojas de conveniência dos postos de gasolina às margens da avenida, ou se quer apelar para um fast food. Burger King, McDonald´s, Pizza Hut, Habib´s, todos estão ali, querendo abocanhar uma fatia da conta corrente dos incautos que estão indo ou voltando do trabalho, ou apenas cruzando a cidade de São Paulo rumo ao litoral paulista.
Quer uma dica de ouro? Compre o amendoim torrado na latinha com carvão que um ambulante vende ali próximo do viaduto Santo Amaro. Ele espera o trânsito engarrafar, acende as latinhas com carvão e faz a festa dos motoristas entediados e impacientes. Aceita somente débito e pix.
Se você estiver vindo de longe, via Marginal Pinheiros, morrendo de fome, logo ali no começo da avenida já desponta o Jardineira Grill, uma churrascaria chique, que te cobra uma pequena fortuna pelo rodízio, com direito a quilos e mais quilos de carne de primeira e um buffet de salada, frios e frutos do mar do tamanho de um loft/studio, recém-lançado nos arredores.
Está de passagem por São Paulo, ansioso para chegar na praia, passar aquele final de semana no apartamento de algum parente e esqueceu de comprar um presente? Sem problemas, o Rancho Português está logo ali, todo esplendoroso, artificialmente decorado como se fosse um autêntico restaurante português.
Você pode ziguezaguear pela loja/mercado de bugigangas, pagar a metade do dobro em azeites, vinhos e galinhos de porcelana, arriscar matar a fome com um leitão à bairrada, ou deixar mais de 20 reais num cafezinho espresso acompanhado de um pastel de nata. Mas pelo menos você pode chegar no litoral com um presente a tira-colo, sem precisar parar numa loja da rede Frango Assado. Se bem que, na minha opinião, um mini cavalinho inflável é menos cafona do que um galinho de porcelana.
Agora, o que dizer dos estabelecimentos mais intrigantes da Bandeirantes, as lojas de 3 Palmitos por R$19,90? reais. Ninguém sabe quando começou, mas em algum momento apareceram ao longo da avenida várias lojas, com a palavra PALMITO, assim, em caixa alta, em placas ou decorando a fachada.
Suspeito eu que os empresários donos destes estabelecimentos provavelmente são habitués da avenida, possuem imóveis em alguma praia de Santos e tem residência fixa em alguma cidade do interior, Taubaté, por exemplo.
Imagino a cena. O senhor empresário, de tanto passar pela Bandeirantes, rádio sintonizado na Alpha FM, cansou de ser criticado pela família por comprar o amendoim torrado do viaduto, e só queria um belíssimo fricassê de palmito para o almoço de sábado. Inconformado com o preço da lata de palmito nos mercados do litoral, também colecionava as mesmas reclamações dos amigos.
Eis que um belo dia, enquanto viajava sozinho pela Bandeirantes, boca salivando pensando no fricassê, na mão esquerda um amendoim torrado do viaduto, trânsito parado, olhar perdido, rádio tocando “Ride Like The Wind” de Christopher Cross, ele olha pra um imóvel surrado, todo maltratado, com a faixa de ALUGA-SE, tem uma epifania: É ISSO, VOU MONTAR UMA LOJA DE PALMITO!.
Pronto, nascia assim o empreendimento mais simples, direto e focado da Bandeirantes, a loja de PALMITO. É bem verdade que com o tempo, pipocaram algumas cadeiras e mesas rústicas à venda na porta dos estabelecimentos.
Mas é compreensível: uma belo almoço de sábado com fricassê de palmito, fica ainda mais elegante e levemente cafona com adereços rústicos.
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Eu, desconfiado que sou, já parto para alguma teoria que envolva ilegalidades. Assim como é no mínimo esquisito que o SHOPPING TREM tenha "temporadas" em que todos os vendedores ofertam o mesmo produto, a coisa do palmito tem cara de algo que foi "desviado" no meio do caminho
Essas lojas já ganharam outras localidades. Acredito que o intuito é atender a demanda da vizinhança e a escolha da Bandeirantes é por visibilidade e oportunidade de 'aluguel em conta'. Sempre comprei e nunca tive problemas rs