Nhoque
Uma das massas mais antigas da história da culinária, ela também desperta boas e saborosas memórias
Foi durante o período em que cursava a faculdade de jornalismo, meados de 2003, que descobri o o quanto um prato feito com o preparo, ingredientes e temperos corretos, pode te deixar marcado com uma bela memória gastronômica. Era mais um dia escaldante em Presidente Prudente (SP). Eu, meus irmãos e uns amigos decidimos fazer uma extravagância para o nosso poder aquisitivo universitário: ir almoçar num restaurante.
Em uma cidade, e época, onde as opções eram escassas, o jeito foi ir em um restaurante que servia tanto A la Carte quanto Buffet, que apelidamos carinhosamente de “quilo chic”. E como manda a regra, uma vez num quilo, você tem que montar o famoso prato da ONU, com pelo menos 4 ou 5 culinárias vivendo em harmonia. E foi chegar na Itália, mais precisamente em um nhoque com sálvia na manteiga, que o tempo parou. Ao olhar para os amigos na mesa, a cara de deleite e espanto estava estampada em todos à mesa.
(E essa receita de Nhoque com molho de tomates do Pasta Grannies?)
Mas esse singelo prato, considerado a mais antiga das massas, também está na categoria dos pratos que levam poucos ingredientes (batata, farinha e sal), mas que dão um trabalho danado. Dar a liga na mistura de batata cozida com farinha demanda uma certa experiência. Na casa dos meus pais, nhoque pra mim é lembrança de volta pra casa. É comprar a passagem pra Prudente, e já sei que minha mãe vai preparar uma bela fornada de nhoque gratinado para recepcionar os filhos.
Aqui em São Paulo (SP), nhoque é lembrança de almoços especiais com os amigos da Editora Trip, onde debutei como jornalista. Como a firma ficava a duas quadras da Rua dos Pinheiros, o destino era sempre a Cantina Gigio. Saladas, antepastos, pães italianos e torradas com alho atiçavam a fome e preparavam a cama para um nhoque borbulhante, molho de tomate pedaçudo e um gratinado capaz de emocionar qualquer um. Vale lembrar: no cardápio eles dizem que a porção alimenta 2 pessoas, mas eu afirmo que dá pra sustentar umas 4 pessoas, fácil.
Com o passar dos anos, fui acumulando várias memórias e sabores das cantinas e restaurantes aqui da cidade. Dos meus favoritos, os da lista abaixo são os que eu peço com certa frequência:
Morando no centro há menos de um ano, já fazia um tempo que a fachada da A Botanista, na Rua Bento Freitas, 90, chamava a minha atenção com os dizeres “cozinha de interior e sertão”.
Para quem gosta de comida bem feita e temperada, os PFs deles são espetaculares, mas foi experimentar o nhoque de abóbora com molho cítrico, castanhas amanteigadas e laranjinhas, que automaticamente ele foi parar no hall das memórias gastronômicas, ao lado do Nhoque que provei há 20 anos em Presidente Prudente (SP). Não dá pra descrever o sabor, mas nunca imaginei que manteiga e laranja pudessem conviver no mesmo prato. BO
E já que começamos esse boletim falando de “quilos chiques", deixo aqui uma dica valiosa para os vegetarianos de plantão: o nhoque verde ao molho de tomate do Restaurante Lagoa Tropical, na Rua Borges Lagoa, 406. Quando aparece ele pinta no buffet, rola até fila de espera com pratinho na mão.
Mas, se você está com preguiça de preparar a massa do zero, mas quer um nhoque gostoso e feito com ingredientes frescos, eu sugiro acordar cedo aos sábados, e correr ali no Bar do Parque, que fica na esquina de acesso ao estacionamento do Parque da Água Branca, na Rua Ana Pimentel, 45.
No salão do bar, alguns produtores orgânicos que não tem espaço na feita dentro do parque, expõe e vendem seus produtos. Bem na porta está o pessoal do ¡De Puta Madre! Cocina, que preparam um nhoque de batata doce sem glúten que vai salvar o seu almoço de fim de semana. Mas chegue cedo mesmo, umas 9h, pois eles levam poucas unidades e acaba tudo muito rápido.
O Coifa é um boletim com histórias de cozinha. Curtiu o Coifa? Assine e indique pros amigos :)
Que saudades da Cantina do Gigio. Tinha uma entrada (não lembro o nome e fui espiar no menu e não achei) que era uma torrada com um molho feito à base de anchovas que era tão bom que eu tinha vontade de me besuntar com ele. Hahahahaha e a Osteria Generalle foi onde pedi meu marido em casamento. Só boas lembranças esse post.