Frito ou assado, o que importa é o salgado
Sempre dizem que ele estraga a refeição, mas a gente sabe que não.
Seja perto da hora do café da manhã, almoço ou beirando a hora do jantar, ouse revelar em voz alta que pretende comer um salgado, só pra enganar a fome, e logo alguém vai te repreender com um sonoro “nossa, mas isso não é comida de verdade”.
O fato é que os salgados e salgadinhos deveriam receber um grande pedido de desculpas. Arrisco até dizer que uma lei deveria ser promulgada, obrigando a todos pedir benção para as estufas repletas de bronzeadas frituras, empadinhas e pães de batata recheados, sempre que entrarem uma padaria ou boteco.
Em casa, comer uma porção de bolinhas de queijo no lugar de uma refeição era permitido apenas em datas comemorativas e aniversários. A única exceção era quando estávamos viajando de carro, seja de férias ou visitando meus avós. A molecada era só alegria quando trocava o almoço por algum salgado em algum Graal ou Frango Assado na beira da rodovia.
Com o passar dos anos as regras foram afrouxadas, e os salgadinhos e pães de queijo ficaram mais frequentes. E todo mundo sabe que o melhor “cento” de salgadinhos não está em nenhuma vitrine ou supermercado, mas sim em algum lugar do bairro.
Em Presidente Prudente (SP), quem domina a arte é a Cidinha Confeiteira, que há pelo menos 20 anos, fornece bolinhas de queijo crocantes, empadinhas de palmito e risoles para matar a larica da nossa família.
Aqui na capital, quando quero matar a vontade de comer salgadinhos de festa, dois lugares estão sempre na minha lista, Um Sonho de Coxinha, salgateria vegetal ali no bairro da Bela Vista e o Transilvegan, em Santana, na Zona Norte.
Já quando o assunto é salgado que vale por uma refeição, fica difícil escolher um estabelecimento. Por isso, o negócio é explorar as mais diversas estufas em busca de uma iguaria que se destaque.
Se formos falar das coxinhas da cidade, por exemplo, vão pipocar botecos clássicos como Veloso, Frangó, Bar da Dona Onça e Zé Gordo, mas se a disputa for para os ringues das padocas, a Iracema Pães e Doces, nos Campos Elíseos, entra forte na luta, com sua coxinha de camarão.
E o que falar da coxa-creme? Bendito o dia em que alguém resolveu besuntar uma coxa de frango inteira no creme e empanar, deixando só o ossinho de fora. As mais famosas ficam concentradas no centro da cidade, no Estadão Bar & Lanches e da Panificadora Santa Tereza, a padaria mais antiga do país.
Ainda no campo da fritura, existe aquele que é o mais indecente dos salgados: a salsicha empanada, também conhecida no interior como “pau de Múmia”. É preciso muita técnica e sabedoria para envolver a salsicha com a espessura correta de massa: a salsicha tem que ficar toda escondida na massa, nada de deixar pontinha pra fora, esturricada após ser frita em óleo. Você o encontra com frequência por aí, mas um dos melhores aqui do centro fica na Padaria Cristalina, na Rua Dona Veridiana, 97.
Antes de explorarmos outros métodos de cocção, é preciso abrir um parágrafo aqui para falarmos de um salgado, o Cigarrete. Sua origem deu-se em Jaboticabal (SP), em 1974, quando uma tradicional lanchonete localizada no centro da cidade resolveu enrolar queijo e presunto numa massa mais espessa de pastel, untar tudo com ovo batido, empanar no queijo ralado grosso e fritar. Aqui na capital, a dica é colar na zona sul, na Padaria Ceci, mais conhecida como “A Rainha dos Salgados”. Os cigarretes da vitrine estão sempre quentinhos e crocantes.
Indo para o campo dos assados, um dos meus preferidos aqui da cidade é o “folhado". Foi em meados de 2007, passeando ali pelos arredores do Estádio do Pacaembu, que um desses conquistou o meu paladar. Recheado com queijo branco e tomate seco, quase do tamanho de uma sholder bag, o folhado da Barcelona Doces e Pães, acompanhado de uma coquinha gelada, salvou vários cafés da manhã. Com o passar dos anos, o tomate seco foi deixado de lado, mas a qualidade do folhado continua excelente.
Pouco mais de 3 quilômetros dali, na Rua Palestra Itália, 513, a Pastelaria Brasileira é referência no bairro quando o assunto é comer um salgado fresquinho acompanhado de caldo de cana ou suco. Você pode até se perder entre os pastéis e salgados, mas não pode sair de lá sem experimentar a “Esfiha de Salsicha com queijo", que é basicamente um enroladinho de salsicha com queijo, catupiry e feito na massa da esfiha.
Ainda nos arredores, no pé do “Minhocão", mais precisamente na esquina da Rua das Perdizes, 25, o perfume dos salgados recém-saídos do forno da Brioche Brasil atrai os transeuntes e moradores do bairro, que fazem fila logo cedo, para escolher quais os mais diversos folhados, salgados ou doces e rotisserie. Nada de balcão ou vitrines, as iguarias feitas pelas mãos do chef Christophe Guillard ficam ali ocupando um grande mesão coberto com toalhas quadriculadas. Se você der sorte, pode encontrar ali na mesa o Dog monsieur, uma versão hot-dog do Croque monsieur.
Para encerrar essa edição, deixo aqui um dos meus lugares favoritos para comer um salgado quentinho, bem recheado e saboroso: o Chapadão Restaurante e Lanchonete, localizado na esquina das Ruas Jaguaribe e Dona Veridiana, no bairro da Santa Cecília. Meu salgado favorito ali é o “Bauruzinho” (mas pode chamar de joelho, enroladinho…) de 3 queijos. Não recomendo o pão de queijo, tá? O tamanho dele impressiona, mas dependendo de que horas ele foi feito, pode muito bem servir de peso de porta.
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Edição deliciosa! Que saudade que eu tava do folhado da Barcelona!
Como eu vivi uma vida inteira sem cigarete?